sexta-feira, 21 de abril de 2017

Políticos Cientistas



Políticos profissionais, políticos empresários, políticos religiosos, ... . No geral, eles são alheios às carências materiais das populações e às sensibilidades da natureza, levando-nos à bancarrota social e ambiental. Não é questão de pessimismo exagerado: é o alerta da ciência. O Homo Sapiens cava sua própria extinção, não douram a pílula os cientistas.

Urge então que o Saber passe a ter influência efetiva sobre os Poderes, o que será difícil de acontecer enquanto os cientistas em maioria permanecerem confinados em seus laboratórios. Felizmente, a opinião pública começa a pressionar para a entrada em cena de uma nova e indispensável classe política, os políticos cientistas. 22 de abril é O Dia da Terra.  Neste próximo, haverá a Marcha em Prol da Ciência: milhares de cidadãos se manifestarão para demonstrar seu comprometimento com as verdades cientificas -- o auge deverá ser a capital norte-americana, Washington; entretanto, 514 outras cidades de 54 países engrossarão a marcha. Ecoará pelo mundo o apelo ao engajamento dos cientistas na política: esperança de uma profunda e não tardia mudança de comportamento da governança global em favor do Homem, da Natureza e da valorização da pesquisa científica.

Governos ameaçam a ciência de diversas formas: restrições orçamentárias, censura aos pesquisadores e relegação a último plano de agências de fomento à pesquisa. O caso de censura mais escancarado vem da Rússia. A eleição à Academia de Ciências foi anulada por pressão da alta cúpula do governo Putin. Motivo: os três candidatos propugnavam, em uníssono, por uma direção científica independente e autônoma.

A ciência também padece dos efeitos deletérios de políticas governamentais seja irracionais seja xenófobas. O governo Trump toma medidas de sabotagem dos acordos de Paris visando à redução das emissões de gases de efeito estufa, comprovadamente as responsáveis principais pelo aquecimento global. Por outro lado, a pretendida interdição de entrada nos Estados Unidos de cidadãos de diversos países trará significativos prejuízos à pesquisa, protestam numerosas organizações científicas. Declara Rafael Reif, presidente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o icônico MIT: "Pouco importa ser paquistanês, somaliano ou de onde for, os cientistas consideram do mais alto proveito o intercâmbio entre pesquisadores". James Appleby, dirigente da Sociedade Norte-americana de Gerontologia: "Uma boa parte das grandes descobertas são o fruto da colaboração entre pesquisadores do mundo inteiro".

As condições estão postas para que os cientistas entrem resolutamente na política, e eles começam a fazê-lo. (1) Em dezembro último, 400 pesquisadores percorreram ruas de São Francisco por ocasião da conferência da Associação Geofísica Norte-Americana, para dizer não à política de Donald Trump de menosprezo das mudanças climáticas. (2) Bill Foster é um físico norte-americano convertido à política: "No domínio da ciência, se alguém diz qualquer coisa que não é comprovadamente verdadeira, é o fim de sua carreira. Ao contrário, é perturbador ver os políticos tão pouco preocupados com os fatos reais. A política precisa voltar a ser crível". (3) A associação californiana Ação 314 -- a denominação é em referência ao número matemático p -- congrega cientistas, Ela é um foro de discussões com o objetivo de incentivar os homens e mulheres de ciência a engajar-se na política. (4) Para Aaron Parsons, especialista em radioastronomia da Universidade de Berkeley - Califórnia, os cientistas têm o dever de tomar a palavra: "Os políticos vieram nos provocar. Chegou a hora de dar-lhes resposta". (5) E não nos esqueçamos das grandes manifestações políticas programadas para o Dia da Terra.

Posso estar enganado, e espero estar, mas parece que o Dia da Terra passará em branco no Brasil. Lamentável.

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