sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Yes, Nós Temos Bananas





O provérbio do ano (autor anônimo) em nossa república bananeira:


Manda quem pode; desobedece quem tem juízes




Em nome de uma fantasiosa governabilidade, como se não houvesse um abissal fosso entre os gabinetes de Brasília e  as  ruas, o Supremo se agacha à república das Alagoas de Renan Calheiros, de Fernando Collor e de Benedito de Lira. (Não por acaso, Alagoas é o pior Estado do Brasil de acordo com os indicadores sócio-econômicos.) Renan Calheiros esnoba o Supremo; Renan Calheiros pode com o Supremo. Ecoando Josias de Souza, analista político do jornal Folha de São Paulo, não há indício de semelhante desmoralização na história da Suprema Corte brasileira.


O blogueiro entra em férias. Deseja aos queridos leitores um 2017 com ainda mais compreensão, conhecimento e participação. Até 13 de janeiro de 2017!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Cuba



A Geografia. Cuba é uma comprida e encurvada ilha do Caribe -- "Oh Cuba! Oh curva de suspiro y barro!" (Federico García Lorca, pranteado poeta espanhol) --, situada a escassos 100 km da península da Flórida, extremo sudeste do colosso norte-americano.

O Povo. Os cubanos são francos, altivos. educados e saudáveis. Finos no trato pessoal e coletivo. Ocupam em massa os espaços públicos, em disponibilidade para o pleno "estar" mais do que para o consumo. Muito bacana a vida além do consumismo, mesmo que seja, em parte, uma alternativa à escassez: o atroz embargo norte-americano continua vigendo, e a produção local de bens de consumo é irrisória.
Não existem miseráveis em Cuba; somando-se à boa educação e saúde públicas, é extraordinário, em se tratando de um país da América Latina.

A Repressão Política. "Dentro da Revolução, tudo; fora da Revolução, nada": eis o lema da ditadura do único partido, o Partido Comunista Cubano. Porteira escancarada para todo tipo de perseguição aos dissidentes políticos.
Louvores às "Damas de Blanco", um numeroso grupo de mães de presos políticos que corajosamente desafia as autoridades em desfile dominical por algumas das principais ruas de Havana, protestando contra a prisão dos filhos por 'crimes' de consciência.
Os números da repressão política estarrecem. Pelo critério de mortos ou desaparecidos por cem mil habitantes, o regime cubano é ainda mais letal do que as ditaduras de direita que vigoraram na Argentina e no Chile. Já em relação aos mortos e desaparecidos por ano de regime, Cuba só perde para as citadas ditaduras da Argentina e do Chile

A Repressão aos Costumes. O governo conservador coloca Cuba na retaguarda de uma série de conquistas inerentes ao século XXI, tais como os direitos dos negros, das feministas e dos homossexuais.

A Economia. Imagine-se um país onde 80% das pessoas trabalham para o Estado. O próprio Estado reconhece finalmente que o salário que ele paga é insuficientes para se viver condignamente. Só agora surge um pequeno setor privado. Receitas cambiais típicas de economia subdesenvolvida: monocultura de cana-de-açúcar e turismo. (Há pouco tempo, o país precisou importar até açúcar!) Acrescente-se este inusitado item de comércio exterior: o país 'aluga' a outros países profissionais superiores que o Estado não consegue absorver, como os médicos cubanos servindo ao programa brasileiro Mais Médicos. 
O que se faz quando o salário não dá para tudo? Pequenas corrupções no cotidiano. Dois exemplos: (1) o gerente de farmácia (estatal) que vende remédio sem exigir a receita obrigatória e fica com o dinheiro; e (2) o motorista que rouba um pouco de gasolina e vende para outra pessoa. E há o dinheiro enviado pelos parentes que moram no estrangeiro, sobretudo Miami. 
Por que um país tão avançado em matéria social é tão fraco economicamente? A mais óbvia das respostas é a incipiência dos investimentos em tanta coisa: agricultura, indústria, infraestrutura e serviços.

O Embargo Norte-americano. Tem a mesma idade da revolução cubana no poder: 57 anos. É uma perversidade da superpotência contra o povo cubano, e pronto.

Os Irmãos Castro. Fidel Castro manteve o poder por inacreditáveis 47 anos, desde que derrubou o governo corrupto de Fulgêncio Batista em 1959, comandando uma revolução armada e popular. Atribuiu-se o papel de pai e mestre do povo, como se outros milhares de cubanos tão brilhantes não fossem capazes de governar a nação. Um pai descrente dos filhos. No final do longo abuso de poder, e somente por motivo de idade e debilidade física, transferiu o bastão a ninguém menos que seu irmão, Raúl Castro. Este último, em idade provecta, anuncia que deixará o poder em 2018, por sua própria vontade (sic).
Cuba dos Irmãos Castro, eis um anacronismo de família 'dona' de um país; excetuando-se a coitada da Síria dos Assad, que outro país é (foi) 'propriedade' de uma mesma família?

Cuba pós Fidel. Fidel, entidade física, morreu. O que será feito da singularíssima experiência histórica de Cuba? Qualquer prognóstico é (ainda) arriscado, mas uma coisa parece certa: se a economia cubana não deslanchar logo, as notáveis conquistas sociais terminarão por perigar.


Principais fontes -
1) Leonardo Padura. Escritor cubano contemporâneo, prêmio espanhol Prêmio Princesa das Astúrias de Letras. Assina uma coluna semanal no jornal Folha de São Paulo, abordando temas do cotidiano cubano. Morador de Havana.
2) Minha mulher, Djanete, que em 1989 passou dois meses em Cuba a propósito do curso para médicos latino-americanos Crecimiento y Desarrollo del Niño ("Crescimento e Desenvolvimento Infantis"), ministrado na Facultad Julio Trigo de Havana.