sexta-feira, 15 de abril de 2016

Michel 'Fabrizio' Temer



Abra-se uma exceção à cláusula pétrea "não copiar - colar" deste blog (Primeira Postagem, 11/09/2014) para reproduzir um trecho do artigo definitivo do jornalista Elio Gaspari, A fala do trono de Temer FSP 13/04/2016. No artigo, Elio Gaspari expõe com todas as tintas o cheiro forte de tramoia da elite oligárquica, visando a apropriar-se da gestão da profunda crise brasileira para operar não mais do que um simulacro de solução da mesma. A oligarquia do mantra "mudar para não mudar" que o romancista italiano Tomasi di Lampedusa coloca na boca de seu personagem Dom Fabrizio, o príncipe siciliano do célebre romance O Leopardo (Il Gattopardo). Michel (Temer) e Fabrizio na prática se fundem em Michel Fabrizio.

Aspas para Elio Gaspari, a propósito do discurso de posse presuntiva do vice-presidente Michel Temer. "Corrupção. Faltou não só a palavra, faltou qualquer referência ao tema. Pode ter sido esquecimento, o que não é pouca coisa, pois nesse caso Michel Temer seria o único brasileiro capaz de falar durante 14 minutos sobre a crise política, pedindo um governo de 'salvação nacional', sem quaisquer referências às iniciativas que feriram a oligarquia política e econômica brasileira. Uma coisa é o destino da doutora Dilma. Bem outra são a Lava Jato e subsidiárias que estão encurralando oligarcas. É insultuoso supor que uma pessoa queira defenestrar a doutora e o PT para travar a Lava Jato, mas quem quer freá-la pode achar que uma troca é uma boa ideia. É necessário reconhecer que a cena do deputado Eduardo Cunha e do senador Romero Jucá de mãos dadas e braços erguidos comemorando o rompimento do PMDB com o Planalto mostra para onde vão os interesses de uma banda da oligarquia. Se houvesse qualquer referência ao combate à corrupção no seu discurso de posse presuntiva, Temer mostraria coragem e disposição de incomodar correligionários. Esqueceu-se, tudo bem, mas não deve pedir aos ouvintes que não percebam. Como se sabe desde que a palavra impeachment entrou no vocabulário político, tirar Dilma é uma coisa, quem botar no lugar é outra". Preocupante, terrivelmente preocupante.

A Folha de São Paulo, em editorial na primeira página da edição de 03/04/2016, revela seu incômodo com o prosseguimento do mandato esfacelado de Dilma Rousseff. Tampouco tranquiliza-se com sua substituição pelo vice Michel Temer, como se buscasse Elio Gaspari em apoio. Roga que Dilma e Temer façam o gesto nobre de renunciar, e que a população seja convocada a participar de nova eleição presidencial, no prazo de 90  dias.

Em minha postagem O Tempo e o Tempo do Brasil de 18/03/2016, vou bem além: renúncia igualmente de todos os congressistas, e convocação de eleições gerais. Eleições precedidas por uma profunda reforma política, via assembléia constituinte específica. Vá lá que tudo isso durasse mais de 90 dias, porém não haveria por que ser muito mais. Um sonho distante, certo, mas que mereceria ser alardeado à exaustão.

Só o clamor consciente e propositivo das ruas poderá impulsionar as imperiosas reformas civilizatórias de que o Brasil tão urgentemente necessita. Queiram ou não as elites. Mudar para mudar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário