Alexis Tsipras é um político da esquerda (radical) helênica, que fez uma campanha eleitoral de esquerda, que ensaiou um poder de direita* e que foi reconduzido a mais um mandato mesmo com tudo por fazer. Convém examinar o fenômeno: o que prometeu e não fez, e por que continua a merecer o aval do eleitorado grego. No final, tenta-se enxergar paralelos com Dilma Rouseff.
No conturbado cenário político-econômico da Grécia parlamentarista, epicentro da infindável crise da Europa e do Euro (ver também, neste blog, Euro: uma Ilusão Monetária? 10/07/2015), um jovem político e seu novo partido destronaram, em janeiro / 2015, os carcomidos políticos e partidos tradicionais. Desde então, sucederam-se duros embates parlamentares e com a Comissão Européia, desaguando em mais duas eleições e um plebiscito. Nove meses de tensão continuada, e Alexis Tsipras se mantém primeiro-ministro.
Eis o essencial das bandeiras de Alexis Tsipras no principiar de sua saga política:
- Não ao acordo vigente de pagamento da dívida grega junto aos credores externos públicos e privados
- Não à rigidez monetária da troika Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Européia (leia-se: Berlim e Paris)
- Praxe política: aliança com partidos anti europeístas e anti moeda única européia, mesmo que de direita e ultra direita
- Sim ao Grexit (saída da zona do euro), em caso de não fechamento de um novo acordo de pagamento da dívida, aceitável ao povo grego**
- Fim da dramática recessão econômica
- Alexis Tsipras mostra-se um confiável aliado de Berlim e Paris
- Novo acordo com os credores, ainda mais duro do que o anterior
- Não ao Grexit
- Convivência conturbada com o próprio partido e com os partidos do Sim ao Grexit
- Desilusão do eleitorado de esquerda: 45% de abstenções na última eleição
- Persistência da dramática recessão econômica
A verdade é que a Grécia precisa de bem mais do que reestruturar / aliviar sua dívida externa. O setor público é viciado: clientelismo e nepotismo em escala muito superior a outras regiões retrógradas da Europa. Quanto à esfera privada, ela é refém de poucos e influentes oligarcas que dominam a economia, em detrimento de uma concorrência que seja digna do nome. Os jovens empreendedores se sentem asfixiados pela burocracia e pelo boicote dos oligopólios.
Qual é afinal a razão para sobrar um resto de confiança em Alexis Tsipras? A percepção de que ele não é um político do 'sistema', ou que pelo menos ainda não foi cooptado. Os eleitores, agora resignados e muito tolerantes, esperam pelo menos que ele seja capaz de criar uma cultura de saneamento do serviço público e de democracia econômica. O povo grego insiste em vislumbrar um sopro de vida com Alexis Tsipras no poder.
Em comum, Alexis Tsipras e Dilma Rousseff carregam a gravíssima pecha de estelionatários eleitorais. Diferentemente de Dilma Rousseff, Alexis Tsipras permanece um político crível. Ao contrário, Dilma Rousseff amarga uma rejeição de 80% do eleitorado brasileiro. Um político do 'sistema'. "Ser presidente só para se pensar presidente? Dilma vai e se deixa levar para muito perto de humilhações" (Jânio de Freitas, FSP 01/10/2015, um colunista político que se esforçara por acreditar em Dilma Rousseff e seu governo). Desse jeito, o futuro imediato do Brasil parece ser bem mais nebuloso do que o da Grécia.
*- Esquerda e Direita são conceitos políticos cada vez mais fluidos. Usam-se os termos apenas para simplificar o discurso.
**- Entenda-se por povo grego os 90% de cidadãos espezinhados política e economicamente.
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