Meu netinho, se lhe perguntam por uma coisa de que ele não gosta, reage com o polegar para baixo e o bocejo "puff!" (estou certo que a intenção dele é mesmo "pum!"). O que acho da seleção brasileira de futebol? Como o neto, aponto o polegar para baixo e exclamo "puff!". Faz uma eternidade -- desde 1982 ou mais de 30 anos -- que deixamos de empolgar o planeta foot. Relembrando a Copa do Mundo de 82 na Espanha, o Brasil proporcionou momentos mágicos sempre recordados pelos amantes do futebol arte. Nunca mais.
Há diversas causas da decadência técnica do futebol brasileiro: cartolas bisonhos e muitas vezes corruptos, calendários mal elaborados, clubes falidos e desorganizados, mistura indigesta de política e futebol. Contudo, sempre foi mais ou menos desta forma. Para mim, o problema maior, em primeiro, segundo e terceiro lugares, é a quase extinção de nossos grandes craques. Por quê? Culpa principalmente de nossos técnicos obsoletos e teimosos. Vamos por partes.
Seja considerada super seleção uma que tenha ao menos 3 super craques. Confiram-se as 4 linhas acima da cinzenta, na tabela abaixo. Quatro super seleções brasileiras. Não deu outra: 3 campeonatos do mundo e um 3° lugar. Anote-se o importante detalhe: dos 10 super craques citados, somente 1 é jogador de defesa -- Nilton Santos --, assim mesmo um lateral que costumava avançar transformando-se em ponta esquerda. Ou seja, seleções extremamente ofensivas: aos adversários só restava se defender, inutilmente ou quase.
Copa do
Mundo
|
Super
Craque
|
Colocação
|
Suécia
(1958)
|
Nilton
Santos, Didi, Garrincha, Pelé
|
Campeão
|
Chile
(1962)
|
Nilton
Santos, Didi, Garrincha
|
Campeão
|
México
(1970)
|
Gerson,
Rivelino, Tostão, Pelé
|
Campeão
|
Espanha
(1982)
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Falcão,
Sócrates, Zico
|
3° Lugar
|
México
(1986)
|
-
|
-
|
Itália
(1990)
|
-
|
-
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EUA
(1994)
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Romário
|
Campeão
|
França
(1998)
|
-
|
2° Lugar
|
Coréia-Japão
(2002)
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Ronaldo
|
Campeão
|
Alemanha
(2006)
|
-
|
-
|
África
do Sul (2010)
|
-
|
-
|
Brasil
(2014)
|
-
|
4° Lugar
|
Em 1982, complexo de vira-lata definitivamente superado, achava-se tolamente que só importava ser campeão. Esnobou-se o honroso 3° lugar. Pior: "De que adianta jogar leve e bonito se o time não é vencedor!" (sic). O elegante técnico Telê Santana perdeu espaço. Passa a vigorar o futebol força ao invés de nosso tradicional futebol espetáculo. Entram na moda os chamados "técnicos de resultado": volantes de contenção (coisa horrível!), zagueiros se livrando da bola de qualquer jeito e às vezes truculentos, um ou dois infelizes atacantes perdidos no mar de defensores adversários. Agonia dos craques, engessados em esquemas estáticos e sem imaginação. Fim das super seleções (linhas da tabela sob a cinzenta).
Resultado: com exceção de 1994 e 2002, o Brasil teve participação imemorável em todas as copas pós-1982. Inexistiam craques, quanto mais super craques. É bem verdade que no 2° lugar de 1998 despontava Ronaldo: todavia encontrava-se meio 'bichado', capengando na final em que o Brasil foi goleado pela França. E o 4° lugar de 2014? Apequenou-se, depois dos vareios Alemanha 7 X Brasil 1 e Holanda 3 X Brasil 0. As copas de 1994 e 2002, com o Brasil vencedor, merecem duas observações. Não é mera coincidência que num caso e noutro havia um super craque, Romário em 1994 e Ronaldo em 2002. No entanto, eles eram estrelas solitárias de seus times palidamente luzidios. É bem sabido que estas foram as piores copas, em termos de qualidade dos times participantes.
Atualmente temos o singular Neymar, que tenta se impor à revelia de técnicos estreitos e retranqueiros. É pouco, muito pouco.
Resultado: com exceção de 1994 e 2002, o Brasil teve participação imemorável em todas as copas pós-1982. Inexistiam craques, quanto mais super craques. É bem verdade que no 2° lugar de 1998 despontava Ronaldo: todavia encontrava-se meio 'bichado', capengando na final em que o Brasil foi goleado pela França. E o 4° lugar de 2014? Apequenou-se, depois dos vareios Alemanha 7 X Brasil 1 e Holanda 3 X Brasil 0. As copas de 1994 e 2002, com o Brasil vencedor, merecem duas observações. Não é mera coincidência que num caso e noutro havia um super craque, Romário em 1994 e Ronaldo em 2002. No entanto, eles eram estrelas solitárias de seus times palidamente luzidios. É bem sabido que estas foram as piores copas, em termos de qualidade dos times participantes.
Atualmente temos o singular Neymar, que tenta se impor à revelia de técnicos estreitos e retranqueiros. É pouco, muito pouco.
O futebol moderno é um misto equilibrado de competências individuais e intenso coletivo. A Alemanha de 2014 era assim: um punhado de excelentes jogadores -- não nos esqueçamos deles: Neuer, Schweinsteiger. Khedira, Özil, Kroos, Müller -- e um conjunto altamente solidário, atacando e defendendo em bloco -- guardemo-lo na memória. O futebol brasileiro carece de craques e de articulação ataque - defesa. Sem se modernizar, não restará senão seu glorioso e cada vez mais distante passado.
Nota - Brasil e Venezuela jogaram em Fortaleza, neste 13/10/2015, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2018. Pouco mais da metade da lotação do Castelão. Fosse tempo de empatia torcida - seleção, seria casa cheia.
Futebol: objeto de debates sem fim no Brasil!
ResponderExcluir2 reflexões seguinte a seu artigo:
- concordo com você que o jogo do Brasil não é mais espetacular. Na minha opinião, jogo espetacular agora é só nos clubes (Barça, Bayern...), não mais nas seleções. A formidável expansão da economia do futebol aumentou o poder dos clubes e por consequência um jogador agora privilegia seu clube. Lembro-me que há poucos anos, jogadores brasileiros se poupavam nos meses ante duma Copa do Mundo. Imagino que isso não é mais possível (ou desejado) para os internacionais nos grandes clubes europeus,
- 1998: a França ganhou a final (cocorico !) contra uma seleção brasileira com o Ronaldo já craque (embora que ele passou mal antes do jogo), e o Brasil obteve assim o 2º lugar
Você está certíssimo, Stéphane. Só faltou deixar explícito que o Paris Saint-Germain está no mesmo nível de Barça, Bayern, ... .
ExcluirDesfiz a omissão sobre a Copa da França de 1998.
Para isto, vamos esperar ainda um pouquinho (ja o jogo contra o Réal de Madri hoje à boite!)
ExcluirAbraços
Vou assistir!
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