sábado, 5 de setembro de 2015

Programação Informática no Ensino Infantil



Um debate muito interessante e importante ocorre entre pedagogos, sobre o ensino de programação informática desde a tenra idade. É fato que as crianças e os pré-adolescentes compõem a "geração numérica", nascida com a Internet. Eles manipulam à maravilha aparelhos eletrônicos como smartphones e tablets. Os dedinhos mágicos passeando pelas interfaces pós teclados, sensíveis ao toque (touchscreen): meu netinho de 2,4 anos que o demonstre! Mas a criançada não faz ideia do que se passa no interior dos computadores. Precisa saber?

Para os que dizem sim, a chave para o sucesso profissional ao longo do século XXI é a chamada "inteligência de processo" (procedural intelligence), isto é, a habilidade de decompor passo-a-passo uma tarefa complexa: o complicado é transformado em uma sequência de procedimentos singelos. A boa programação informática é exatamente isso. Mais precisamente, a programação é um meio potente de capacitação para a resolução de problemas sofisticados. A inteligência de processo é uma competência fundamental que deve ser adquirida desde a infância.

Porém há controvérsias, e elas são também fortes. O grande pé-atrás concerne às previsões de sucesso profissional no século XXI. Predizer o futuro é sempre uma aposta arriscada, sobretudo em se tratando de educação. Os fatos reforçam: pregava-se o fim do teclado, ou que toda a comunicação homem-máquina se daria por voz; ora, até hoje não há trabalho sério que substitua o 'velho' teclado. Arriscar então que o teclado extinguirá o lápis e a caneta? Outra precipitação. Como parece impossível antecipar as competências do amanhã, é mais lógico ensinar as matérias generalistas que são a leitura, a redação e o cálculo matemático, em vez de se concentrar em conhecimento específico como a programação informática.

Com meus botões, que tal ensinar a leitura, a redação, o cálculo matemático e a programação? Em favor da programação informática, ela é um conhecimento específico que permite generalizar.

Pari passu com a discussão, o ensino de programação informática em todas as idades já é uma realidade em diversos países. Nos Estados Unidos, ele é impulsionado pela constatação de que até 2020 haverá um milhão de vagas para programadores (para muitos analistas de mercado, uma previsão subestimada). 2014 foi proclamado o ano da programação no Reino Unido, envolvendo desde crianças de 5 anos. A França preparou seu abrangente Plano Numérico para a Educação, a entrar em vigor já no ano letivo 2015-2016. Finlândia: a partir de 2016, programação informática será matéria obrigatória em todos os currículos. First Code Academy -- escola de programação informática em Hong Kong - China --, para as faixas de idade 6-8 anos ("turma da bricolagem"), 9-11 ("exploradores") e 12- ("criadores"). A campanha internacional "Uma hora programando" (Barack Obama participou: conseguiu?!).

Passemos a uma noção concreta de programação informática para crianças de 4 a 7 anos. Eis o propósito da Linguagem Kibo, concebida pela psicóloga Marina Umashi Bers da Universidade de Tufts (Grande Boston). Como sói esperar, ela é ao mesmo tempo simples e engenhosa. O kit para programar em Kibo contém somente peças uniformes de madeira, um boneco e decalques com ícones representando comandos (ver a figura I).
A respeito do modelo de programação Kibo, a figura II é auto-explicativa. Não há dúvida: a criançada vai 'deitar e rolar' com Kibo.

Kibo é uma dentre diversas linguagens existentes de programação informática para crianças. O paradigma Kibo é aproximadamente comum: operando com uma das linguagens, ainda mais facilmente uma criança aprenderá quaisquer outras.

A quantas anda a 'onda' de programação para crianças no Brasil? Fora uma incipiente e inconclusiva troca de opiniões na lista sbc-l da Sociedade Brasileira de Computação, não tenho visto mais nada. Uma corrida contra o tempo. Universidades brasileiras, mexam-se!


Fontes: The Economist (01/08/2015); The Guardian (03/06/2015); The Wall Street Journal (26/04/2015); Tech in Asia Cingapura (23/03/2015).

2 comentários:

  1. Concordo contigo: leitura, redação, matemática e programação como matérias fundamentais que devem ser aprofundadas. Para o resto (história, ciência, ...), noções introdutórias são suficientes.

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  2. Concordo contigo: leitura, redação, matemática e programação como matérias fundamentais que devem ser aprofundadas. Para o resto (história, ciência, ...), noções introdutórias são suficientes.

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