sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Os Visionários GAFA


Nossa missão é aperfeiçoar o ser humano e afrontar a morte. Bill Maris, Google

A vida de um homem, no conjunto, é solitária, pobre, cruel, brutal e curta. Thomas Hobbes, filósofo



Os presidentes das empresas GAFA -- Google, Amazon, Faceboork, Apple -- são os hiper modernos visionários messiânicos. Movidos a certeza, eles se julgam aptos a salvar o mundo terreno: os seres humanos se ocuparão do que realmente lhes agrada e viverão muito, muito tempo. Eles são egos ilimitados, também pudera: incrivelmente bem sucedidos nos negócios, dirigentes das quatro maiores gigantes da internet, miliardários, jovens, com sex-appeal talvez, inteligentíssimos, extremamente inquietos e mentalmente audaciosos. Fazem um contraponto abissal aos atuais dirigentes políticos e econômicos globais, tristemente marcados por inoperância e vazio de ideias.

Impulsionadas por suas imensas reservas financeiras, as GAFA vislumbram muito além de suas atividades de origem, decididas a propor uma panóplia de novos e para nós outros inimagináveis serviços. O suporte são a aprendizagem automática, os grandes bancos de dados interdisciplinares (big data) e as máquinas super processadoras de dados. Compõem a assim chamada inteligência não consciente, capaz de suplantar os seres humanos na realização de todas as tarefas. Isso vai na mesma linha de Jeremy Rufkin, o consultor americano 'queridinho' da governança européia que preconiza que a internet propiciará abundância de bens materiais via democratização do acesso aos insumos, da produção e da distribuição de bens (ver, neste blog, A Era do Gratuito?! 13/03/2015).

Seguem-se quatro dos ambiciosos projetos GAFA, por empresa.

Google. Bill Maris, gerente da sociedade de investimento Google Ventures, está decidido a 'matar' a morte. Ele acredita que já é possível viver 150 anos. Google Ventures consagra 36% de seu porta-fólio de 3 bilhões de dólares a jovens empreendedores especializados em biologia e bioinformática e que se dedicam a P&D concernindo ao prolongamento da vida. Palavras de Bill Maris: Nós vamos ganhar a luta contra a morte. (Ver a primeira epígrafe.)

Facebook. A grande aposta da empresa é a realidade virtual. O trunfo é criar um site onde será possível realizar um mundo de atividades cotidianas. Você quer consultar um médico japonês dedicado à osteoporose? Receberá virtualmente o médico em sua casa ou na tela de seu computador, quando quiser. Com um detalhe: o virtual será ainda mais capaz  e eficiente do que seu êmulo físico, e conversará na sua língua. Com tal disponibilidade, os serviços de saúde, educação, etc. ficarão baratos.

Apple. A constatação é que a tendência à indolência das pessoas vai de par com seu bem-estar. Na prancheta, um tecido eletrônico sensível ao toque (touch skin), que reconhecerá gestos e toques do usuário. Para controlar o ar-condicionado ou o rádio do carro, por exemplo, bastará deslizar o dedo por determinada área do volante revestido com o tecido. Fim dos botões de controle.

Amazon. O processamento de linguagem natural -- Natural Language Processing (NLP) --, que andava meio desacreditado, volta a ganhar impulso com os esforços da subsidiária de P&D da Amazon, Lab126 Inc. Seu Amazon Echo, um dispositivo de comunicação homem-máquina por meio de voz, foi recentemente liberado. O apelo é que seus algoritmos de NLP são altamente eficazes e acurados.

Apresentados os projetos GAFA, coloquemos três pingos nos is. (1) Espanta pensar em inteligência não consciente. Evoque-se Rabelais: Ciência sem consciência não é senão ruína da alma.  (2) As decisões mais importantes para a humanidade seriam tomadas por um pequeno grupo de super homens de negócio. Plutocracia. Gangue dos Quatro (ou de um pouco mais). Uma possível nova versão de A Revolução dos Bichos, de George Orwell, volta a nos assustar. (3) Dá para acreditar em altruísmo do ser humano? Infelizmente, não. Registre-se que Facebook é também um grande mercado de traficantes de seres humanos, e nada, nada indica que deixará de sê-lo. Thomas Hobbes continuará atualíssimo, brevidade da vida inclusive. (Ver a segunda epígrafe.)

Termino por dizer o seguinte: tirante meus receios 1-3, muito admiro os brilhantes 'moleques' das GAFA.

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