quinta-feira, 16 de abril de 2015

Somos Sós no Universo


No Espaço, não existem “lugares melhores” [do que a Terra]. Carl Sagan



A Evolução (Darwin) programou os seres humanos para serem nômades, em busca de rincões melhores para sobreviver. Herman Melville, em seu deslumbrante Moby Dick, falou pelos errantes de todas as épocas: “Sou atormentado por um desejo constante pelo que é remoto. Gosto de navegar mares proibidos...”. Agora que nossa Terra se encontra quase que inteiramente vasculhada (e sendo sistematicamente destruída), o Espaço são os "novos mundos dos mistérios" a serem descobertos e explorados. Diante da enormidade da tarefa, os humanos se obrigam à humildade: existiriam civilizações extraterrestres em estágios tecnológicos muito mais avançados. Seria o caso de mais receber do que dar. Amparam-se no filósofo grego Crisipo: “É arrogância insana um ser humano pensar que nada lhe é superior em todo o mundo”. Tudo isto posto, é tempo de examinar a quantas anda a pesquisa em alienígenas.

Discernem-se dois enfoques de tentativa de comunicação com alienígenas. No primeiro -- passivo --, apontam-se radiotelescópicos potentes para estrelas 'próximas' similares a nosso Sol, em faixas de frequência que permitiriam interceptar comunicações interestelares. Desolador: total mutismo das estrelas. Na abordagem mais agressiva ou pró-ativa, enviam-se mensagens a planetas que gravitam em torno de estrelas longínquas. Os planetas não têm respondido.

(Deixe-se a inteligência extraterrestre um pouco de lado. Percebe-se um esforço meio desesperado de Carl Sagan para difundir, em seu belo Pálido Ponto Azul [a Terra vista do alto], as belezas do Cosmos: ele enxerga vales majestosos em Tritã (lua de Netuno) e uma atmosfera iridescente em Titã (lua de Urano). Todavia, não se furta à depressiva realidade: não há um mísero ser vivo no Sistema Solar, um microbiozinho que fosse; à exceção da Terra, todos os objetos -- planetas, luas, cometas, asteroides -- são de uma apavorante hostilidade a tudo o que se entende como propício à vida. Ver a epígrafe.)

Frank Drake, decano do programa SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence), uma pesquisa internacional liderada pelos Estados Unidos, elaborou há mais de 50 anos uma célebre equação, até hoje não relegada, que estima o número de civilizações com as quais poder-se-ia comunicar. Uma aplicação dela deu mais de dez mil civilizações (sic). O problema são os parâmetros da equação, ou como instanciá-los. Existem variáveis assim: o número de planetas tendo civilizações desejosas de se comunicar; a duração média de existência de uma civilização. Francamente, não dá.

Aqui na minha petulância, proclamo que não existe vida inteligente (para não falar de qualquer tipo de vida) fora de nosso planeta Terra. Posso até baixar a guarda com um oximoro: por muitas centenas ou milhares de anos ainda, as estrelas e os exoplanetas nos serão sonoramente mudos. Dá no mesmo.

Protegendo-me das críticas que virão, conto com um defensor ilustre. Refiro-me ao italiano Enrico Fermi (1901-1954), ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1938, no que ficou conhecido como o Paradoxo de Fermi. Suponha-se que há no Universo um bom número de civilizações muito superiores à nossa, por uma simples questão de probabilidade e estatística. Então algumas delas possuem tecnologia permitindo de vir nos ver. Não é o caso. Não há pois extraterrestres.

A conclusão é uma só: resta-nos proteger nossa pequena, linda e frágil Terra. Mas talvez seja preciso reavaliar a hipótese de que existe vida inteligente na divina Terra, tais as agressões à divindade. (Jonathan Swift: "O Ser Humano é basicamente irracional, com alguns lampejos de racionalidade".) Daqui a 5 bilhões de anos, a Terra desaparecerá, engolida pelo Sol. Muito longe de acontecer. É salutar considerar que nosso planeta teria toda uma eternidade pela frente, se a loucura humana deixasse.


2 comentários:

  1. Observações
    1. A mudez do universo indica a ausência de vida inteligente? O fato de eu não achar bugs num programa não implica que ele esteja livre de bugs. Há várias explicações possíveis: civilizações existiram no passado mas não existem neste exato momento. Só estamos achando o universo mudo há, no máximo, 100 anos; outra explicação: civilizações avançadas existem mas morrem logo por não conseguirem gerir a tecnologia, o ambiente, etc., o que deve acontecer com os terráqueos... Civilizações inteligentes e capazes de lançar ondas eletromagnéticas no espaço podem ter vida muito curta.
    2. "Apavorante hostilidade": "Pálido Ponto Azul" de Carl Sagan foi escrito há mais de 20 anos. Hoje, acha-se possível que haja vida no sistema solar: Europa, lua de Jupiter, é candidata. Claro que não deve ser vida inteligente (possuindo cognição)
    3. "civilizações muito superiores à nossa": Estranhei a palavra "superiores". Como comparar civilizações? Se uma civilização extra-terrestre tiver tecnologia mais avançada mas aceitar a escravidão, ela é superior? Eu diria "civilizações com tecnologia mais avançada". Parêntese: Da mesma forma, seres vivos não podem ser comparados holisticamente. Somos "superiores" aos cachorros? Temos vantagem cognitiva, eles têm vantagem olfativa. Mas os dois são resultado de 2 bilhões de anos de evolução da vida. Os dinosauros viveram por mais de 100 milhões de anos; será que os humanos chegarão a tanto? Nem chance. Então, podemos dizer que somos superiores aos dinosauros? Não podemos comparar entidades complexas holisticamente, sejam humanos ou civilizações.
    4. Concordo totalmente com sua conclusão.
    abraço

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    1. Caro Jacques,
      Seus comentários enriquecem o debate sobre um assunto eminentemente controverso e especulativo.
      Um abraço,
      Marcus

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