quinta-feira, 9 de abril de 2015

O Ocaso da Energia Fóssil



Os cientistas do clima batem o martelo: o planeta Terra se aquece velozmente por causa da atmosfera cada vez mais densa do gás carbônico resultante da queima galopante e continuada de combustíveis fósseis. Também exaustivamente explicado, o efeito é o de uma estufa: mais calor do sol não é refletido para o espaço, desta maneira aquecendo na média a superfície terrestre. O estrago para a Vida -- o problema de nossa sobrevivência -- é real e duradouro: o esforço inaudito a partir de agora é o de como reduzir drasticamente, senão eliminar, as emissões de gás carbônico.

Com a palavra os cientistas: o estoque provado de fontes de energia fóssil -- petróleo, gás e carvão -- contém 4 vezes mais carbono do que a quantidade já existente na atmosfera responsável por, irremediavelmente,  elevar de 2 graus a temperatura média da Terra até o final do século. A solução para estancar o problema da sobrevivência é parar de emitir carbono. Para isso, só existem dois caminhos concomitantes: (c1) utilizar energias não fósseis, não poluentes e economicamente viáveis  -- as chamadas energias verdes ou renováveis: e (c2) vencer a guerra midiática contra o lobby pró-fóssil das grandes corporações petrolíferas e carboníferas. Nos parágrafos seguintes, os caminhos c1 e c2 são discutidos.

A energia solar entra em cena. Os preços dos painéis fotovoltaicos caíram 75% em 6 anos e o custo de sua instalação degringola em igual ritmo: segundo o Banco da Alemanha (Deutsche Bank), ele será 40% menor em 2 anos.  Já se vislumbra uma era de fartura energética nos trópicos, onde o sol reina com todo o esplendor. Bangladesh: o país possui 15 milhões de instalações fotovoltaicas, crescendo à razão de 60.000 novas instalações por mês. Índia: uma empresa de energia solar ganhou uma grande concorrência para fornecimento de eletricidade, com uma oferta por kwh-hora inferior à de uma mega empresa carbonífera; os agricultores alimentam seus telefones celulares com o excedente da energia gerada pelos painéis solares que abastecem as antenas.

A energia eólica atua de par com a energia solar. Quando o sol se põe, o vento se robustece. Sem esquecer que as tecnologias para estocar eletricidade são flexíveis e amadurecidas. No ano passado, a Dinamarca produziu 40% de sua eletricidade com turbinas eólicas.

A Apple constrói na Califórnia - USA, na Dinamarca e na Irlanda centros de dados gigantes à base de energias renováveis. Medidores inteligentes são disponibilizados em profusão: eles possibilitam a regulagem da demanda; por exemplo, apagando uma caldeira quando não há mais necessidade de água quente. E.ON, maior grupo energético alemão, vem de anunciar que as energias verdes passam a ser seu foco.

Na grande arena do embate político, as gigantes "irmãs" do petróleo, do gás e do carvão, junto com seus poderosos aliados do mundo das grandes finanças, percebem que é em vão que se esforçam por fazer valer a grande mentira: que o aquecimento global tem causas naturais e que as energias renováveis tão cedo não terão escala.

O novo mantra anti-aquecimento global é diametralmente oposto: sair do fóssil, investir fundo em energias verdes, e deixar o carbono no subsolo. Das palavras à ação. Barack Obama apôs seu veto à construção de um oleoduto entre a Província de Alberta -Canadá e refinarias no Golfo do México, nos Estados Unidos. No Canadá, todos os projetos de oleoduto ligados à exploração de areia betuminosa sofrem bloqueio de militantes incansáveis, numerosos e organizados. No Estado de Nova Iorque - USA, a exploração do xisto está proibida, da mesma forma que na Escócia, no País de Gales, na França e na Tasmânia. Idem, no Sahara argelino. A construção de 6 terminais gigantes na costa oeste dos Estados Unidos, visando à exportação do carvão do Estado do Wyoming - USA para a China, foi definitivamente abortada. Estados Unidos e China, os maiores poluidores mundiais, finalmente se comprometem a reduzir celeremente suas emissões de carbono.

Ninguém é ingênuo de pensar que a Humanidade de livrará do fóssil do dia para a noite. São 2 séculos de infraestruturas que precisarão de algumas décadas para serem completamente desativadas ou parcialmente reaproveitadas. O que é certo: os investidores se conscientizam de que leis e acordos globais serão de tal maneira restritivos que será impossível consumir energias fósseis ao ritmo atual. Em termos econômicos, significa que os ativos ligados a petróleo, gás e carvão perderão valor intensamente.

E o Brasil diante de tudo isso?! Nosso país é  muito maior do que Índia e  Bangladesh, tanto em tamanho quanto em fontes energéticas renováveis. (Exclua-se a energia hidráulica. As grandes represas, via de regra, provocam algum tipo de desastre ambiental, direta ou indiretamente.) Futuro verde radioso? Infelizmente, parece que não, devido à miopia do Governo e da Petrobras: de maneira renitente, continuam a apostar todas as fichas essencialmente no petróleo do pré-sal. Ademais, as manifestações de rua da sociedade civil organizada se omitem. Nesta marcha, o colapso econômico viria não da produção de derivados de petróleo e gás mas dos impedimentos a seu consumo intensivo. Quem viver verá, a persistir tão curta visão estratégica.

4 comentários:

  1. Assunto urgente e crítico.
    O problema na realização de mudanças é que o senso de urgência ainda não é palpável o suficiente para que tomemos as medidas necessárias, individual ou coletivamente. Na minha opinião, o problema é tão grave e urgente que carros pessoais deveriam ser proibidos, no menor prazo possível. Mas não queremos largar nosso carro, não é?
    Sim, o Brasil está focado no petróleo, a exemplo de inúmeros outros países (EUA, Canadá, ...).

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  2. A França escolheu ha décadas de produzir a maioria da eletricidade a partir da energia nuclear.
    Era uma opção estratégica para diminuir a sua dependência dos produtores de petróleo. Mas hoje o debate aqui é a parte que cada fonte de energia deve ocupar. Esquematicamente, o partido Verde queria 0% nuclear e tudo de fontes renováveis, a esquerda de governo (partido socialista), diminuir até 50% a eletricidade de fonte nuclear, e a direita, continuar em torno de 80%.
    Um estudo mostrou recentemente que passar em 2050 a 50% de nuclear ou a 0%, o resto sendo produzido por fontes renováveis, teria um custo mais ou menos comparável.
    Não imagino que energia fóssil vai desaparecer daqui a um século. Quando eu era menino, depois do primeiro choque petroleiro, eu lamentava que eu não poderia rodar uma moto a gasolina quando for adulto! E já tive varias...
    Acho que a discussão é sobre o mix da energia: como organizar o decrescimento da energia fóssil sem desorganizar as economias. Isto sendo ainda mais crítico para os países com forte crescimento econômico e assim forte crescimento da demanda de energia.
    A fonte nuclear, que era considerada uma boa solução gerando pouco carbono há poucos anos atrás, não parece mais aceitável.

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    1. Caro Stéphane,
      Como andam as usinas geradoras de eletricidade movidas a energia das marés da Normandia?
      Um abraço,
      Marcus

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    2. Caro Marcus,

      Usinas explorando marés são muito raras. Existe só uma na França, ela data de 1966, e verifiquei poucas no mundo (1 no Canada e 2 na Coreia).
      Esse tipo de usina demanda um sitio com características que se encontram raramente.
      E elas geram alguns problemas ecológicos como o emvasamento da baia.

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