quinta-feira, 5 de março de 2015

Teodoro Obiang

Teodoro Obiang


Meus leitores estariam a morrer de curiosidade: quem é e por que Teodoro Obiang Nguema Mbasogo?!

Teodoro Obiang é o Ditador Constitucional de um infeliz país da África, Guiné Equatorial. Há trinta e cinco anos governa com mão de ferro. Sempre reeleito, em eleições 'livres' e 'multipartidárias'. Pois é, formalmente a Guiné Equatorial é uma democracia representativa. Porém, ai de quem não votar no eterno candidato Obiang, do Partido Democrático da Guiné Equatorial. Que o digam seus opositores manifestos, encarcerados ou no exílio.

O clichê de país rico em recursos naturais, chefe de estado assaltante e população miserável cabe muito bem à Guiné Equatorial. O território é exíguo: uma nesga de terra continental e duas pequenas ilhas. Pouco importa: é o terceiro maior produtor de petróleo da África, atrás apenas da Nigéria e de Angola. PIB por habitante dos mais altos do mundo. Êxtase (para o ditador) e Agonia (para a população). Segundo a revista Forbes, é o oitavo governante mais rico do mundo.No outro extremo, a taxa de mortalidade infantil está entre as piores: vinte por cento dos bebês morrem antes de completar cinco anos. A imensa maioria dos habitantes não tem acesso nem à educação e nem à água potável.

Acontece que Obiang tem entre seus mimos ... o Brasil e a língua portuguesa. Como tudo parece rocambolesco, cabe desde já distinguir a Guiné Equatorial das outras duas guinés que nos são familiares: Guiné-Bissau e Guiné. Com a Guiné-Bissau e a Guiné temos laços étnicos: boa parte dos escravos do Brasil escravista vieram delas. No que concerne somente à Guiné-Bissau, de colonização portuguesa,  temos também a identificação linguística. E em relação à Guiné Equatorial? Ela era uma colônia espanhola até 1968 salvo que, nos séculos XV e XVI, suas duas ilhas pertenciam a Portugal. O que restou desse domínio português insular e primordial é uma língua crioula derivada do português antigo.   

Voltemos a Obiang e suas manias. Talvez, tudo tenha começado via os negócios com a Petrobras. Nos idos da geopolítica lulista, a ponte aérea Brasil - África do Centro-oeste e do Sudoeste vivia abarrotada dos mesmos executivos que estão agora nas malhas da Operação Lava-Jato. Será que Obiang aparece nos depoimentos deles? Não sabemos. O certo é que, nos tempos atuais, o homem é amigo da rainha. No camarote da presidente Dilma Rousseff, por ocasião da final da Copa do Mundo de Futebol no Maracanã, Obiang lá estava, junto com Angela Merkel da Alemanha, Príncipe Albert de Mônaco e Vladimir Putin da Rússia. Viram como o sujeito é prestigiado?! Apaixonado pelo Rio de Janeiro, o que é muito natural. Para suas visitas constantes à cidade maravilhosa, comprou à vista um luxuoso apartamento no estratosfericamente caro bairro carioca de Ipanema. Quando quer mais mordomias, hospeda-se na suíte principal do faustoso hotel Copacabana Palace. Louco por mulatas e samba, sua escola de samba preferida é a Beija-Flor. Não satisfeito de vê-la desfilar repetidas vezes no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, contratou um show particular da escola. Na explosão do entusiasmo, sacou dez milhões de reais para financiar-lhe o desfile deste ano. A Beija-Flor bem que aproveitou: sagrou-se campeã do carnaval 2015.         

Seu amor pela língua portuguesa deve ser decorrência da admiração pelo Brasil. O nome "Teodoro" pode também ter ajudado. Pano rápido: quase noventa por cento dos equato-guineenses falam ou compreendem o espanhol, que é a língua oficial; o português só é falado por expatriados angolanos e moçambicanos. Mesmo assim, Obiang decidiu promover o português, começando com o próprio exemplo: contratou um professor particular. Para difundir a língua no país, instituiu em 2011 o português como sua terceira língua oficial, atrás do espanhol e do francês. Finalmente, manobrou e conseguiu fazer a Guiné Equatorial parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A CPLP merece um parágrafo.

O que deveria ser, afinal de contas, uma comunidade dos países de uma certa língua? Difícil saber precisamente, mas é mister supor que a língua seja a professada pelos países envolvidos. Já vimos que a CPLP 'furou' o conceito: a Guiné Equatorial não é lusófona. Entramos no absurdo, todavia o absurdo nesta área tornou-se quase a norma. Dois exemplos de comunidades que acolheram em seu seio países não tendo a menor afinidade linguística: (1) Moçambique (lusófono) pertence à Commonwealth; e (2) Guiné-Bissau (lusófona) integra também a francofonia. Dir-se-ía que a CPLP vai sendo pouco a pouco dissolvida em proveito de línguas politicamente mais fortes. Isso vai de encontro à Guiné Equatorial de Obiang.

Jonathan Swift, de "As Viagens de Gulliver", escreveu que o Ser Humano é basicamente irracional, com alguns lampejos de racionalidade. Não consigo vislumbrar um fio de razão em Teodoro Obiang. 

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