O filósofo Bento Prado Jr. argumentava que no Brasil também se faz marxismo, fenomenologia, existencialismo e positivismo, mas não havia novidade ou contribuição maior: quase sempre, trata-se de divulgação. Três décadas depois, o antropólogo Lévi-Strauss identificava O Novo na fronteira da antropologia e da filosofia: ele se referia às pesquisas do casal de antropólogos brasileiros Eduardo Viveiros de Castro e Déborah Danowski. Eis um resumo, bem resumido, da principal ideia de Eduardo & Déborah.
Nós somos capazes tecnicamente de fazer coisas inimagináveis. Por exemplo, faz-se a bomba atômica, mas não se pensa a bomba atômica. Entramos no terreno do Supraliminar -- conceito de Eduardo & Déborah. Ou seja, a questão (ou o problema) é tão grande, que é melhor tentar ignorá-la(o). Como refletir sobre a crise climática, que depende de milhares de parâmetros? Provoca uma paralisia cognitiva. Então as pessoas se evadem mais ou menos assim: "O mundo vai aquecer quatro graus... E o que vai acontecer? Então é melhor nem pensar”.
O supraliminar me ajuda a entender o que se passa com a campanha presidencial brasileira. O debate é de uma pobreza desalentadora. Os candidatos, em maior ou menor intensidade, se limitam a trocar acusações. As grandes questões ou os magnos problemas nacionais passam bem ao largo. O eleitor, que no fundo aspira a mudanças, parece paralisado pelo supraliminar. Alguns fatos graves lhe causam amnésia. Na política: (1) o próximo congresso promete ser o mais fragmentado da história; (2) PT e PSDB, antípodas, terão bancadas quase iguais em tamanho; (3) mais blocos de votos à venda; (4) o presidente será tentado a repetir os negócios habituais de montar (na grana) sua coalizão; e (5) metade do país estará muito insatisfeita com seja lá quem for o presidente. Na economia: (1) lerdeza econômica e expansão mais lenta das despesas sociais; e (2) as previsões econômicas são ruins (governo e oposição só divergem em grau).
Afastando o supraliminar, não há como ignorar que já vivemos faz tempo um período política e economicamente turbulento, e que só dá sinais de mais turbulência. A situação exige um Estadista na cadeira presidencial. Você enxerga um entre os candidatos? Eu sou pessimista demais para responder.
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ResponderExcluirMarcus,
ResponderExcluirSe houvesse um estadista candidato no pleito presidencial, ele ou ela não teria a menor chance de se eleger. O que ocorre no Brasil é muito simples:
1. Bater no concorrente dá resultado. Todo marketeiro político sabe disso e não é só no Brasil: numa campanha americana, à qual assistimos pelo noticiário, o mesmo ocorre: tudo à beira da mentira ou descaradamente mentiroso, mas não o suficiente para que se sofra processo de calúnia. Suponho que seja igual na França, Canadá, etc. Mas candidato estadista, ético, não faria isso ... e não ganharia.
2. Olhe o nível do eleitorado! A maioria das pessoas sequer entende o que é dito pelos candidatos! Quando Aécio fala (parafraseando): "vou implantar um movimento de busca ativa permanente para que as pessoas pobres não sigam invisíveis" - apenas um exemplo - o coitado na frente da TV nem entende a mensagem; ele não entende as palavras e seu significado. Agora ouça o danado do Lula falar. Vai direto para o coração.
Pergunto eu: há chance de um candidato estadista ser eleito em qualquer parte do mundo?
Recentemente, no Canadá, houve um grande candidato "estadista": Michael Ignatieff (hoje professor de Harvard). Ele foi redondamente derrotado, saiu da política dizendo que era algo sujo demais. Depois da eleição, escreveu um livro extremamente interessante: "Fire and Ashes: Success and Failure in Politics". Faço votos para que seja traduzido. É um estadista abrindo o jogo sobre como a política funciona.
Pensando melhor: Michael Ignatieff tem "porte de estadista" mas não é estadista pois apenas quem detém poder pode ser estadista.
ResponderExcluirOlá tio Marcus. Resolvido a questão da senha, agora, é acessar e comentar.
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