quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Ecos de Minha Viagem a Curitiba



Curitiba fascina por ser considerada a capital brasileira com melhor qualidade de vida. Em primeiro lugar, convenhamos que por qualidade de vida subentendem-se sete itens,  sem importar a ordem: (i1) transporte público de qualidade; (i2) área verde por habitante segundo  padrões internacionalmente aceitos; (i3) limpeza; (i4) segurança; (i5) equipamentos culturais; (i6) inexistência de misérias  econômicas e sociais; e (i7) população civilizada. (Educação e Saúde Básicas ficam à margem, dada a impossibilidade de observá-las em tão curto tempo.) Como a cidade se comporta em relação a estes sete fatores?
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A topografia plana de Curitiba e o planejamento da cidade -- largas e retas avenidas -- facilitaram a implantação de pioneiras e numerosas linhas de BRTs (Bus Rapid Transit) pelo antigo prefeito Jaime Lerner. As estações de passageiros são uma graça e estão sempre cheias. Minha filha, como tanta gente, prefere o ônibus a seu carro para o deslocamento casa - trabalho: o último, só para passeios de fim de semana. Apesar do êxito do sistema, as pessoas já reclamam de seu sub dimensionamento: é a consequência da urbanização galopante, mesmo em um estado de interior rico como o Paraná.
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Verde Que Te Quero Verde!, parafraseando um dos hinos da escola de samba carioca Mangueira: a cidade é plena de praças bosque, ruas e avenidas arborizadas e lindos parques. Dir-se-ia que a Mata Atlântica na região continua preservada, apesar do gigantismo urbano da capital e de sua área metropolitana. A natureza bem que ajuda: os índices pluviométricos de Curitiba são próximos dos amazônicos.
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Andar a pé em Curitiba é muito confortável: além do aconchegante verde, tudo é muito limpo. Acrescento: calçadas amplas e quase sempre em bom estado, placas em pedestais com os nomes das ruas em todas as esquinas por onde passei, todas as faixas de pedestre que usei com sinalização para pedestres. E mais: os prédios antigos, alguns imponentes, são bem preservados: à noite, a criativa iluminação de vários deles é um bálsamo para os olhos.
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A segurança da população encontra-se em situação de alerta, haja vista as horrorosas e recentes rebeliões nas prisões de Cascavel e Guarapuava, respectivamente no centro e no sudoeste do Paraná. Furtos e roubos em Curitiba também estão em um crescendo. Possíveis explicações: desemprego em pequena porém constante alta, e drogas. Entretanto, as ruas apinhadas de pessoas de todas as classes sociais, muitas crianças inclusive, estão a indicar que o problema ainda é significativamente inferior ao prevalente em quase todas as outras capitais brasileiras.
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Meu périplo cultural se limitou a manifestações artísticas locais. Um afinadíssimo conjunto instrumental evocava músicas relativamente antigas: Ladeira da Preguiça, de Gilberto Gil, lindo! Um grupo de teatro representava os jovens na década de 70. Todos os artistas jovens e saudáveis. Teatros  cheios, com predominância de público  jovem. O Teatro Paiol e o Portão Cultural são excelentes equipamentos culturais. O Museu Oscar Niemeyer, arrojado e em meio a um luxuriante parque: programação intensa de mídias variadas, e de novo presença intensa de gente jovem.
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Não vi favelas em Curitiba, mas que elas existem, existem. Flanelinhas em profusão, alguns mendigos.
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Diziam-me que o curitibano é muito bairrista e que, exageros à parte, não gosta de 'estrangeiros'. Felizmente, essa sensação não se me confirmou: caras alegres e descontraídas; afáveis, quando solicitados. Motoristas particulares: de um lado, respeitadores dos sinais de trânsito; de um outro e infelizmente, selvagens em grande número ou um bando de frustrados corredores de fórmula 1. Os pedestres são apressados e indisciplinados, furando os sinais: como em todo o canto.

Considerações finais. Gastronomia? Limito-me a citar a charmosa e diversificada boulangerie Délices de France: isto mesmo, nome e cardápio em francês; o croissant  era tão bom quanto aqueles de Montpellier, onde morei, e de Paris. De um modo geral, minha avaliação de Curitiba é plenamente  positiva: sem dúvida e como ponto de partida, ela é modelo a ser seguido pelas demais capitais brasileiras. Paira no entanto no ar uma sensação de desconforto com a deterioração pouco a pouco de sua qualidade de vida.

Um comentário:

  1. Marculão,
    Sua agudez de observação me faz querer rever Curitiba, mas só se for o acompanhando.
    Quanto à limpeza, minhas observações me levam a achar que cidades tropicais sempre são "delabrées". A correlação entre as variáveis "limpeza da cidade" e "latitude" deve ser altíssima. Curitiba se beneficia da geografia (além, suponho, do nível cívico dos habitantes).

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