segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Serra da Ibiapaba



Deixei o Ceará muito cedo, até voltar em 2009, professor universitário aposentado da UFCG. De seu interior, praticamente só conhecia a estrada Icó (onde nasci) - Fortaleza, de interesse nenhum. Também só retinha a paisagem seca, entremeada com breves períodos de verdura. O Estado é o mais árido do Brasil: as chuvas do Atlântico Leste, abundantes em toda a faixa da outrora Mata Atlântica, não lhe chegam frequentemente; pelo Oeste,  as águas amazônicas muitas vezes esbarram no Piauí, quando atingem o Piauí. Contrapondo-se porém ao sertão esturricado, há interessantes regiões altas com micro climas propícios e fontes de água: Serra da Ibiapaba, Chapada do Araripe e Serra de Guaramiranga. O próprio sertão não é de todo desprovido de atrativos: Sertão de Quixadá é especial. Finalmente tive oportunidade de conhecê-las, todas.

Meu breve discorrimento, hoje, é sobre a Serra da Ibiapaba. Em futuro qualquer, abordarei as demais regiões citadas.

A Serra da Ibiapaba é a rigor um planalto, alto de 600m, e com pontos elevados de até 1.000m. A flora lembra o Sahel, aquela parte do Norte da África espremida entre o Mar Mediterrâneo e o Deserto do Sahara: palmeiras do tipo tamareira, arbustos ásperos e de verde intenso. Água brotando em certos pontos. O clima é seco e as temperaturas são amenas. Deste conjunto de fatores vem o fato que deveria deixar o leitor pasmado: o Ceará é um dos maiores produtores de rosas do Brasil (!). E produz igualmente muito morango.

São Benedito, Cidade das Rosas, abriga ao menos duas grandes fazendas de flores. Visitei uma delas. Beleza! Um campo a perder de vista de rosas vermelhas e amarelas. Claro que são diferentes, mas não deixei de recordar os campos de lavanda da Provence. Os empresários são mineiros. O lugar é melhor do que Minas para o plantio de rosas: com clima seco e temperado, os fungos não prosperam. Já faz tempo que a empresa ficou impossibilitada de exportar -- o Brasil volta a ser só exportador de soja e minério de ferro --, sobrevivendo felizmente graças ao  mercado interno. As grandes praças consumidoras: Belém do Pará e Fortaleza. O grande cliente: Rede Pão de Açúcar. Onde o staff dirigente se hospeda na cidade? Em pousadas. (A minha pousada, por exemplo, é aconchegante e agradável.) As rosas trouxeram o requinte: São Benedito tem delicatessen (!) Foi um prazer conversar sobre vinhos e acepipes com o educado e ilustrado garçon: preconceituoso, duvidei de sua naturalidade, mas ele é mesmo citadino.

Viçosa do Ceará é uma joia colonial. Suas igrejas, palacetes, casarões e teatro são bonitos e bem conservados. A praça central chega a ser linda. Viçosa é uma cidade dos festivais de dança, música e teatro, assim como Areia na Paraíba e Garanhuns em Pernambuco. Nos inúmeros belvederes dos arredores, a serra proporciona visões deslumbrantes: estas figuras atestam-no https://www.google.com.br/search?q=vi%C3%A7osa+do+cear%C3%A1&biw=1366&bih=657&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=cHIgVN-DNJCRgwTs-YLQAQ&ved=0CDUQ7Ak.

Por fim, Gruta de Ubajara, no parque nacional do mesmo nome. O melhor mesmo é seu entorno: um precipício de 700m oferece panoramas espetaculares dos contrafortes da serra e da planície lá em baixo.

Então, tudo são flores na Ibiapaba? De jeito nenhum. A região não escapa de ser subdesenvolvida, com as mazelas de sempre. Todavia, só dá-me vontade de falar de suas coisas boas.   

Um comentário:

  1. Interessante. Não conheço a região mas me alegra em saber que já tem uma aptidão econômica importante. Cabe agora ao estado investir em infraestrutura e principalmente na área da educação - gestão e cursos profissionalizantes. Única chance de sair da categoria de subdesenvolvido. Obviamente que as chances dessa região são maiores em virtude dessa base já implantada.

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