sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O Mal-Estar da Civilização Norte-americana



Os Estados Unidos vivem uma escalada de tensões sociais que espanta o mundo. Como que se iguala à China em intolerância. As duas icônicas imagens abaixo exibem um paralelo aterrador.
À esquerda, Baton Rouge - USA, 2016: uma consciente enfermeira norte-americana encara, olhos nos olhos, policiais em pé de guerra que terminarão por prendê-la; seu 'crime', participar de uma manifestação de movimentos negros contra a violência policial de tintura racista. À direita, Pequim - China, 1989: um estudante chinês põe-se, com altivez, diante dos tanques mortíferos do exército que ameaçam varrê-lo; seu 'crime', participar de uma manifestação pela democracia.

Violências raciais escancaradas. Xenofobia. Bolsões de pobreza nas grandes cidades, onde quase não há esperança de promoção social. Empobrecimento das classes médias. Obsessão maldita da população por armas de fogo. Sistema político carcomido por financiamento de candidatos ligados a poderosos grupos de interesse que não estão nem aí para os deixados-por-conta. O diretor da revista Foreign Policy, David Rothkopf, é contundente em artigo do último 14 de julho: "Como exigir de outro país maior atenção aos direitos civis quando nosso próprio país desrespeita seu povo?" É como se o resto do mundo reclamasse: "Quem sois vós para nos julgar?".

O candidato presidencial republicano Donald Trump, em ascensão para ganhar as eleições, simboliza "O Americano Feio" (The Ugly American) para a imprensa internacional. Um perigo para o mundo. Nem é preciso recorrer à opinião externa aos Estados Unidos. Segundo o respeitado jornal The New York Times, Trump é "um irresponsável", e que "truculento, não suporta nenhuma crítica pessoal". E mais, Trump "não tem nem a personalidade, nem os valores, nem a experiência para ser presidente". Dando a palavra de novo a David Rothkopf, "Trump é um bufão racista, xenófobo, misógino e despótico".

Que a imperiosa crítica a Trump não seja tomada por acolhimento à candidata democrata Hillary Clinton. Ela é a 'queridinha' dos financistas de Wall Street: sua campanha arrecada muitíssimo mais do que a de Donald Trump. Sinal de que as possantes confrarias anti-populares continuarão a ter vida fácil sob um governo Clinton.

Diante de tal quadro, o legado de Barack Obama não se prenuncia virtuoso. É bem verdade que ele tem se posicionado de maneira eloquente em prol das relações inter-étnicas e do controle das armas de fogo. Os robustos lobbies, de diversos tipos, lhe causam desconforto. Contudo, é fato que esses problemas só pioraram em seu governo. Num mundo que muito tem necessidade de mudanças profundas, a começar pelos Estados Unidos, faltou a Obama sobretudo coragem e determinação, estima o hebdomadário italiano Internazionale: "Em seus dois mandatos, ele preferiu deliberadamente evitar o conflito". Lamentável, em se tratando do primeiro presidente negro, e que por isso mesmo despertara tantas esperanças.

Os Estados Unidos se mantêm firmes como o grande centro planetário de inovação tecnológica e como os mais fortes disseminadores de cultura de massa. Sua supremacia nos domínios da finança e da Internet é incontestável. O maior arsenal bélico. Mas os tempos políticos não lhes são mais tão favoráveis. Os agudos problemas internos dos Estados Unidos corroem seu papel de "líder do mundo". Em consequência, outros países emergem, politicamente fortes. A multi-polarização é bem-vinda!

2 comentários:

  1. Marcão
    Muito boa sua análise sobre o mal-estar na América e a falta de perspectiva com as duas candidaturas presidenciais. Concordo também com a tibieza de Obama, para mim mais um presidente negro do que um negro presidente. Mas não consegui deduzir do seu texto quais países emergem politicamente fortes, excluindo-se obviamente a China, certamente nenhum modelo de "líder do mundo".

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    1. Caro Bernardo,
      Além da China, a Alemanha e a Rússia são países cada vez mais fortes na cena política mundial. A Alemanha exercendo liderança na Europa e a Rússia no Oriente Médio.

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