sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A Era do Antropoceno



Os geólogos batem o martelo: nosso planeta sofre uma inaudita catástrofe ecológica. Mais precisamente, a Terra está à mercê de uma agressão sem paralelo no tempo geológico, provocada pela 'civilização' humana.

O gênero humano nasceu e se transforma desde mais de cinco milhões de anos. Esse vasto período é dividido em eras geológicas, como mostrado na tabela a seguir.
Os valores da coluna Início são aproximações. Por exemplo, a era do Plioceno começou há aproximadamente cinco milhões e trezentos mil anos e terminou faz um milhão e oitocentos mil anos, quando iniciou-se a era do Plistoceno. A era do Antropoceno, ressaltada em vermelho forte, se encontra em seus albores: a partir de 1950 ou há infinitesimais sessenta e seis anos na escala geológica.

As eras geológicas são definidas por constâncias específicas, com alcance planetário. Elas deixam seus rastros em partes as mais diversas. Para ilustrar, os gelos eternos da Groenlândia são verdadeiros arquivos geológicos, cada era representada por uma nítida camada, em ordem descendente de antiguidade do fundo para a superfície. Considere-se a extinção dos dinossauros, há mais de sessenta milhões de anos, muito antes portanto do Plioceno (ver a Tabela). A camada de gelo da era dos dinossauros, por demais abaixo da do Plioceno, assinala uma forte presença de irídio, um metal encontrável no mundo inteiro, originado de um meteorito que colidiu com a Terra à época. Ressalte-se que as camadas ainda mais inferiores não registram a presença de irídio.

No que diz respeito ao Antropoceno, o gelo dos depósitos de neve a partir de 1950 acusam elementos radioativos provenientes de explosões de bombas nucleares, ejetados primeiro na atmosfera e depois trazidos à Terra. Isso por si só distingue a camada do Antropoceno da anterior, Holoceno (ver a Tabela). Outros sinais abundam em ritmo explosivo. Tudo agora é perversamente alucinante: formidável aumento das emissões de dióxido de carbono; elevação rápida do nível dos oceanos; extinção maciça de espécies animais e vegetais; e esterilização dos solos pelo desflorestamento desenfreado. Poluição dos cursos d'água e dos oceanos, transformados de forma vertiginosa em depósitos de plástico, alumínio e outros materiais não biodegradáveis; altos níveis de azoto e de fosfatos nos solos, provenientes de adubos químicos utilizados desregradamente. A Terra se ruboriza de calor por efeito da concentração velozmente crescente de gases estufa na atmosfera. Até quando os gelos da Groenlândia?!

Em suma, a Terra muda com tal rapidez, desde 1950, que o jovem Holoceno já cedeu lugar ao Antropoceno. A pane do sistema terrestre é a característica do Antropoceno.

Os negacionistas do Antropoceno -- entre eles, o notório Donald Trump -- argumentam que seria muito cedo para admitir uma nova era geológica. Entretanto, um especialista honesto redarguirá: as alterações em curso são irreversíveis. O ser humano destrói, em míseros anos, o que a metamorfose natural levaria milhares ou milhões de anos para fazê-lo.

O termo antropoceno é do ano 2000, e foi criado pelo holandês Paul Crutzen, prêmio Nobel de química de 1995. Em 2011, ele proclamou: "A transição do Holoceno para o Antropoceno faz sublinhar a enorme responsabilidade da Humanidade em sua condição de guardiã da Terra."

Paul Crutzen teria incorrido em demasiado otimismo. Parece assustadoramente perene a máxima do escritor clássico Jonathan Swift ("As Viagens de Gulliver"), que viveu de 1667 a 1745: "O ser humano é basicamente irracional, com apenas alguns lampejos de racionalidade." Nós não merecemos nosso lindo e acolhedor planetinha Terra.

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