sexta-feira, 15 de julho de 2016

Inteligência Artificial


     Eu não posso tornar um computador feliz ao lhe oferecer uma torta de morango.
     Seria uma idiotice. Ele não tem consciência da felicidade. Não há espírito em uma 
     máquina. Não há nada.
                                                                 David Gelernter, cientista da computação


O espírito humano é um sistema eminentemente complexo, misterioso e maravilhoso. Não está ao alcance da compreensão humana, longe, muito longe disso. Embora assim, uma teoria, o computacionalismo, concebe um programa de computador apto a agir como um espírito. Contra o que reage David Gelernter, cientista da computação* e professor de informática da Universidade de Yale - USA: o computacionalismo incorre em um despautério (ver a epígrafe).

O espírito humano não é acionável por um simples toque. Ele se agita, divaga, sonha, preguiça. Sofre alucinações e pesadelos. E, claro, raciocina. Os computadores são capazes de simular, no máximo, o raciocínio. Com imensas limitações, ressalte-se. Da mesma forma que um grande ator interpretando Getúlio Vargas ou Clarice Lispector, por mais perfeita que seja sua interpretação, não se transforma em um ou outro.

Apesar de impregnada de computacionalismo, é impossível desconhecer que a inteligência artificial tem progredido notavelmente. O problema é que ela esbarra em um gap tecnológico, qual seja, o ainda corrente computador clássico de Von Neumann. Porque este é 'apenas' um possante e extraordinariamente eficiente tratador de dados. O processamento de linguagens lógicas ou programação em lógica -- base da inteligência artificial -- não deixa de ser um tipo de cálculo, por efetuação de regras bem definidas no decorrer das diferentes etapas do processamento. Enfim, se é verdade que um computador poderia ter um quociente intelectual mil vezes superior ao de um ser humano, no entanto ele não passaria de um zumbi, filosoficamente falando.

A insurgência de David Galernter é com relação à ambição desmedida e falsa de querer-se alçar a inteligência artificial  à altura de espírito artificial. O espírito artificial é e será, por vastíssimo tempo, uma quimera. Demandaria, primeiro, mudar a cabeça dos cientistas obcecados de computacionalismo. Por exemplo, eles ousam pretender modelar o senso artístico por meio de regras fundadas em processos bioquímicos ou neuropsicológicos, ignorando a incompreensível fenomenologia das sensações. Insistindo nesses enfoques mecanicistas, poderão dar com os burros n'água. Segundo, impõe-se uma máquina dotada de emotividade. Uma arquitetura de computador inteiramente nova para a qual não se tem, em futuro previsível, a menor ideia de como seria. Não é pois questão de achar que David Galernter é um incorrigível pessimista, característica aliás destoante da necessária mente aberta e ousada de um pesquisador.

Atento às emoções difusas,  David Galernter tem Freud em alta conta. Entusiasma-o o Freud observador meticuloso do mais profundo de nosso espírito, por via da análise dos sonhos e dos pensamentos. Faria bem aos computacionalistas interessar-se por Freud como método de trabalho. Tanto mais que ler Freud é extremamente enriquecedor: ele merece figurar na galeria dos grandes dramaturgos e dos grandes escritores.

Do lado de baixo do Equador, nosso poeta e cronista Ferreira Gullar, tal David Galernter, se extasia com o espírito humano:  O espírito é um grande e espantoso mistério. Há gente que enlouquece por não conseguir entendê-lo. Eu, ao contrário, me maravilho: como bicho homem, sou capaz de me encantar vendo a "Noite Ilustrada" de Van Gogh e ouvindo as bachianas de Villa-Lobos.


*- Contribuições maiores: programação paralela e sistema de programação Linda.


Nota à margem - Horror, terror, horror ... . Não há limites geográficos para a insanidade humana: Buenos Aires, Nova Iorque, Orlando, Londres, Bruxelas, Paris, Nice, Madri, Moscou, Istambul, Trípoli, Nairóbi, Beirute, Bagdá, Bombaim, Daca, Cabul, Carachi. Sem falar do horror implícito e cotidiano da miséria extrema. Dá vontade de parar com o blog. Escrever, para quê?!

3 comentários:

  1. Não pare com o blog, Marcus!
    Desanimados, estamos todos. Um século 21 terrível, para quem - como nós - conheceu a paz da segunda metade do século 20. Bela Guerra Fria!
    Mas lembre da primeira metade do século 20: Por mais triste e desanimador que seja, o horror de Nice não se compara.
    Seus textos incrementam o valor positivo total no universo: queremos mais.

    Quanto à Inteligência Artificial, de fato, ainda não temos o espírito artificial consciente à vista. Mas acho que um dia vai acontecer. O cérebro humano pode ser modelado (um dia) por um programa, incluindo tornar-se consciente. Aposto que meus filhos verão isso!

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  2. Não pare com o blog, Marcus!
    Desanimados, estamos todos. Um século 21 terrível, para quem - como nós - conheceu a paz da segunda metade do século 20. Bela Guerra Fria!
    Mas lembre da primeira metade do século 20: Por mais triste e desanimador que seja, o horror de Nice não se compara.
    Seus textos incrementam o valor positivo total no universo: queremos mais.

    Quanto à Inteligência Artificial, de fato, ainda não temos o espírito artificial consciente à vista. Mas acho que um dia vai acontecer. O cérebro humano pode ser modelado (um dia) por um programa, incluindo tornar-se consciente. Aposto que meus filhos verão isso!

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