sexta-feira, 3 de junho de 2016

Globalização: um Balanço



Por todo o mundo, a combinação de integração econômica mundial -- globalização é o eufemismo -- e progresso técnico destruiu a classe operária tradicional dos países desenvolvidos e ameaça os empregos qualificados de parte da classe média. O economista Larry Summers -- professor de Harvard, Ministro das Finanças de Bill Clinton e ex-assessor econômico de Barack Obama --, em artigo de 10/04/2016 publicado no jornal The Washington Post, escreve: De início, acreditava-se que a ideia de integração econômica mundial favorecia a paz e a prosperidade; hoje em dia, em todo o mundo desenvolvido, a globalização é percebida como um projeto elitista em proveito das elites. Na mesma linha, o cientista político francês Emmanuel Todd é premonitório (era 1998): A globalização se fará acompanhar da queda durável da taxa de crescimento e do formidável aumento das desigualdades no interior dos países ocidentais desenvolvidos.

É interessante medir o mal-estar da globalização pela observação atenta do que se passa nos países alardeados como os campeões do mundo economicamente integrado: Alemanha, Estados Unidos e China. Seriam mesmo campeões?

A tão louvada reforma alemã do mercado de trabalho, levada a efeito em 2003, de fato melhorou substancialmente a competitividade do país por via de arrocho salarial e de flexibilização das leis do trabalho. Como nenhum outro país fez o mesmo, a Alemanha pôde permanecer competitiva, alcançando quase o pleno emprego. Mas a aparente bonança gerou um efeito perverso. Para fugir dos impostos e às expensas de investimentos produtivos, as hiper lucrativas empresas exportadoras passaram a exportar também seus capitais financeiros, empurrando a economia mundial para o monetarismo improdutivo. Ocorre que os cidadãos alemães rapidamente se cansam de bancar a vida dourada dos grandes empresários: de 90% favoráveis à economia do país em 2013 para apenas 56% hoje. No mesmo período, a proporção dos que rejeitam completamente o tratado de livre comércio Europa - Estados Unidos se elevou de 25 para 33%. A Alemanha no rumo de se tornar um país anti globalização.

Nos Estados Unidos, Bernie Sanders -- pré-candidato democrata e anti establishment à presidência dos Estados Unidos -- atrai milhares e milhares de pessoas, sobretudo jovens, para sua revolução política: saúde universal e universidade gratuita estão no prime time do país. Por outro lado, unicamente o profundo descontentamento da classe média norte-americana para com o estado da economia pode explicar por que um populista extremista é o candidato republicano à eleição presidencial.

A China, há bom tempo desiludida com os ventos pressagos açoitando suas exportações, concentra sua energia no fortalecimento do mercado interno.

Três pausas para reflexão: (p1) Hipocrisia no âmbito dos Estados ferozmente defensores do livre comércio. Segundo o think tank norte-americano Peterson Institute for International Economics, 3.500 medidas protecionistas foram adotadas por países desenvolvidos desde 2008; (p2) A primavera de lutas sociais na França. Por que os franceses aplaudiriam uma reforma do trabalho que ameaça privá-los de emprego, sem esperança de encontrar outro?; e (p3) A Finlândia é o país mais competitivo do mundo. Não impede que sua economia se encontre em degradação contínua, sem sinal à vista de recuperação.    

Olhemos o Brasil da globalização. Nos governos Lula e no primeiro governo Dilma Rousseff, as exportações de nossas commodities em alta de volume e preço, 45 milhões de pessoas teriam deixado a pobreza. Apesar disso, segundo dados de janeiro de 2015 do Ministério de Desenvolvimento Social de Dilma Rousseff, mais de 73 milhões de brasileiros ainda vivem em situação de pobreza. Soma efetuada, quer dizer que antes de Lula havia quase 120 milhões de miseráveis, ou 60% da população brasileira: este número não é plausível, exagero da propaganda petista. Número à parte, o que será doravante de tantos miseráveis, com nossa economia em recessão profunda e sem indícios claros de retomada do crescimento? E nem falamos de corrupção, ah!, a imensa corrupção.

Em artigo assinado por três economistas do insuspeito Fundo Monetário Internacional, sobre a economia globalizada monetarista, ... de 150 casos desde a década de 80 de economias emergentes que tiveram um forte aumento dos fluxos de capital, 20% resultaram em crise financeira, além de aumento considerável da desigualdade na população do país. As políticas de austeridade ... não somente geram custos sociais substanciais mas também prejudicam a demanda, aprofundando o desemprego.

Enfim, dê-se um basta à ortodoxia econômica. Heterodoxia! Advenham um novo pensamento econômico e seus economistas revolucionários, à altura de propor saídas socialmente justas e duradouras para a crise global, e para a aguda crise brasileira em particular.

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