sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Gases Estufa, sem Rodeios



Vivemos a Conferência do Clima Paris 2015 (COP21). A derradeira oportunidade para que a governança mundial 'tome juízo' e controle de vez o aquecimento global, com sua esteira de desastres ecológicos. O diagnóstico faz quase unanimidade: a Terra se aquece por causa dos gases de efeito estufa lançados continuamente na atmosfera, provenientes em parte significativa de combustíveis fósseis usados na geração de energia elétrica.  O principal a remediar é igualmente bem conhecido: manter no subsolo, nos próximos 80 anos, 70% das reservas mundiais de petróleo e carvão, para que a temperatura média planetária não suba mais de 2 graus até 2.100. Ato contínuo, as energias de fontes alternativas limpas teriam definitivamente assumido o papel preponderante na matriz energética universal.

Infelizmente, há poderosas razões de ser pessimista quanto ao sucesso da COP21. Segue-se um aperçu de causas e efeitos frente aos quais não se vislumbram soluções efetivas sequer a longo prazo. Nosso pequeno e lindo planeta azul continuará a ser arrastado para a destruição, por obra e graça da incúria e da cegueira dos seres humanos.

China. O maior emissor de gases estufa do mundo. Apesar do enorme esforço para sair desse buraco ambiental: a China é ao mesmo tempo a líder mundial em C&T e produção de energias limpas solar e eólica. O problema é que, como tudo neste descomunal país, o muito está longe do bastante. Por um período indeterminado e certamente duradouro, o decréscimo das emissões poluentes estará bem aquém do ritmo desejado para alcançar a meta dos 2 graus. Em suma, não é argumento sólido contar com a China para salvar o planeta do aquecimento descontrolado.

Estados Unidos. O presidente Barack Obama bem que tem se mostrado consciente do calamitoso aquecimento universal e do papel perverso dos Estados Unidos nesta história: o país é o segundo maior poluidor do mundo (era o primeiro, até há pouco tempo). A posição intelectual de Obama se complementa com importantes medidas práticas anti-poluição. Mas Obama esbarra com um poder adverso ainda maior: o congresso americano. De fundo religioso criacionista, os parlamentares, em maioria, renegam a ciência da Terra no país da ciência. Na visão djihadista deles, o Deus antropocêntrico fez o Homem à sua imagem e semelhança, transmitindo-Lhe algo assim: "Conquiste, domine a Terra, Eu Lha dou para seu bel-prazer". Destruir a Terra não é pecado e nem motivo de preocupação. Berram que é mentira afirmar que o planeta se aquece, Deus em apoio. No balanço geral, os legisladores americanos seguem firme na contramão do discurso mundial pela preservação da vida. (Essa gente obsedada de religião, não importam latitude e longitude, me dá muito medo.)

Comunidade Européia. Terceira maior poluidora do mundo. Atenção, ecologistas do mundo inteiro: resta pouco tempo para conhecer uma sobra da última floresta virgem da Alemanha, Hambach, nas vizinhanças da cidade de Colônia. Ela está sendo devorada pelas escavadeiras do gigante da energia RWE, que ali estende uma enorme mina de carvão (sic). 4.500 hectares de árvores milenárias derrubadas nos últimos anos! Um dos buracos cavados é maior do que a área da famosa catedral. A floresta de Hambach agora é um suvenir de 1.000 hectares. Enquanto isso, na cúpula de Bruxelas, os membros da Comunidade não se entendem, presos a interesses regionais conflitantes. O planeta que arda.

Índia. Na véspera de se tornar o país mais populoso do mundo, superando pois a China, a Índia não quer colaborar para a proteção do clima. Bem ao contrário, pretende aumentar em 3 vezes sua queima atual de carvão. Os argumentos alegados: o país é extremamente dependente de energia a carvão, apresenta ainda enormes bolsões de miséria e extrema miséria, e não quer nem pensar em investir ou dar prioridade a fontes alternativas de energia. A Índia se candidata a ser em breve a maior lançadora de gases estufa do mundo. Salve-se quem puder.

África.  Os países africanos, principais ameaçados pela mudança climática, deveriam contar com si mesmos para minorar a catástrofe ecológica: aumento rápido da desertificação e alternância sinistra de secas e inundações. A África precisa imperativamente se libertar da ideologia do "tudo pelo petróleo" e abandonar modelos de desenvolvimento importados do Ocidente. Investir sem cessar em energias limpas. A Natureza, de um lado revoltada e de outro generosa, está lá para ajudar, se convenientemente tratada. Deplorável, nenhum sinal inequívoco de que a África vá conseguir: faltam-lhe vontade política, recursos financeiros e tecnologia. Ajuda do Ocidente e da China? Nunca será suficiente. A vaca africana está indo célere para o brejo.

Polígono da Seca. A maior seca de todos os tempos, em intensidade e duração, assola a extensa porção brasileira batizada de Polígono da Seca -- Região Nordeste (menos o Maranhão) e Norte de Minas Gerais --, já historicamente tão pobre de chuva. Com previsão de sua persistência em 2016. Colapso hídrico mais que palpável ronda Fortaleza e todo o Estado do Ceará -- o mais árido do Brasil --, e partes significativas do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Pernambuco. Sobradinho, uma das maiores represas fluviais do universo, praticamente secou, paralisando a usina hidrelétrica. Dir-se-ia que o deserto do Saara avança celeremente e sem freio nas direções sul (África Equatorial) e sudoeste (Nordeste Brasileiro, Oceano Atlântico no meio).

Gostaria de ser otimista, mas não posso ser.

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