sexta-feira, 19 de junho de 2015

A China Se Robotiza



É difícil de acreditar mas o certo é que a China, um país com 1 bilhão e 500 milhões de habitantes, enfrenta um grave problema de escassez de mão-de-obra industrial. Dado o gigantismo de seus parques manufatureiros, os jovens se rarefazem, consequência da lei demográfica do filho único. O descompasso oferta - procura se acentua de ano para ano. As empresas se desdobram em anúncios, chegando ao ponto de recrutar diretamente das regiões mais distantes dos grandes centros industriais. O bom efeito colateral é que, desde 2008, o salário médio da indústria mais que dobrou.

Para compensar a falta de recursos humanos, as empresas investem maciçamente em robótica e outros autômatos. A partir de 2013, a China se tornou simultaneamente o maior importador mundial e o maior fabricante universal de robôs industriais. A cada dia, ao menos uma empresa especializada em automação, local ou estrangeira, abre uma instalação na China: é impressionante.

Onde a automação se amolda muito bem é na estampagem de folhas de metal, de tremenda importância para a indústria automobilística e de eletro-domésticos em geral. É bem verdade que um robô não compete em produtividade com um estampador humano, além  de ser muito caro. Porém o robô não se cansa e não sofre acidentes de trabalho: o resultado é que os custos finais das estamparias automatizadas são bem menores do que os das estamparias que usam intensivamente o trabalho humano.

Felizmente para os empregos que exigem qualificação, os robôs por enquanto só são economicamente viáveis em substituição a tarefas simples e repetitivas, como é o caso da estampagem. Sobre essas atividades de baixa capacitação, é inolvidável, verdadeira e assustadora a interrogação-exclamação que Henry Ford, o idealizador das linhas de montagem, se fazia lá em seu tempo: Por que, a cada vez que preciso de duas mãos, elas me aparecem com um cérebro?! O que conduz ao pungente e trágico Tempos Modernos, de Charles Chaplin.

A robotização recebe o firme apoio da governança chinesa. As empresas com programas de automação se beneficiam de preços subsidiados, empréstimos a juros reduzidos e abatimento de impostos. Quanto aos fabricantes chineses de robôs, ainda se trata em boa parte de montadoras: os 'cérebros' dos robôs são importados sobretudo da Alemanha e do Japão, em condições creditícias ultra favoráveis. É um começo como o de tantos outros segmentos produtivos: ganhar nos preços. Contudo é questão de (pouco) tempo e (muito) P&D que os robôs chineses competirão também em inteligência artificial. 

As impressoras 3D não deixam de ser espécies ultra-sofisticadas de robôs. Um instituto tecnológico totalmente dedicado à impressão 3D vem de ser criado na China. Objetivos: (1) P&D; (2) formação de especialistas; e (3) popularização. A aposta é que as impressoras 3D substituirão, com enorme vantagem em produtividade, as ferramentas ora em uso na indústria e no designOs impactos das tecnologias 3D sobre os empregos especializados concentrarão as atenções dos planejadores e tomadores de decisão.

E no Brasil? Perdendo de vista o trem bala das inovações, a questão que se põe a muitos de nossos médios e pequenos empresários é antes existencial que tecnológica. Com o país em recessão e praticando os mais altos juros do mundo, a tentação é abandonar os negócios produtivos e tornar-se rentista. Joaquim Levy e parte da imprensa econômica proclamam à exaustão que passamos por ajustes fiscais amargos e necessários para que, em um raioso e indiscernível dia, o país comece um período econômico virtuoso. Reservo-me o direito à dúvida: sensação de déjà vu. Em todo o caso, a conferir.

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