quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Três Leituras Recentes


Os Sofrimentos do Jovem Werther
J. W. Goethe
L&PM Edições de Bolso
Werther é livre. Carlota, o amor e a paixão de Werther, é presa a correntes éticas e morais. Carlota, porque está comprometida com um outro, nega-se a realizar sua atração por Werther, às custas de quanto sacrifício e dor. Werther, esgotados os meios de conquistar Carlota, e por entender que sua vida sem ela perde todo o sentido, exerce a liberdade de suicidar-se. Ao terminar de ler o pequeno-grande livro, anotei em meu caderninho de aforismos: "Aperfeiçoar o imperfeito"; "Tentar ser livre".

O Homem que Amava os Cachorros
Leonardo Padura
Boitempo Editorial
O tema gira em torno da perseguição e da morte brutal de Leon Trotsky por Ramón Mercader, a mando do tirano sanguinário Joseph Stalin. Assunto conhecido e gasto? Não da forma como Padura o desenvolve: a construção minuciosa e aterrorizante de um assassino político. Esquece-se que é um romance e imagina-se que se trata de História (de terror). Dá náuseas. Vá lá que seja apenas um thriller histórico. Acontece que, após praticar seu nefando ato, Mercader se refugia em Cuba. Cuba se torna comunista, à moda soviética. As distorções do comunismo vão aparecendo e perfurando. Cito apenas o caso do relacionamento homossexual de um professor universitário com um seu aluno: o professor é expulso e o aluno é suspenso (não deve ser ficção). Ah! Por que o título? Bem, Mercader adoooraaava seus dois cachorros.

200 Crônicas Escolhidas
Rubem Braga
Editora Record 
São quase sempre pequenas crônicas, página e meia, no máximo. Abro aleatoriamente o livro. Agora. Deparo-me com "Sobre o Amor, Desamor ...". Adultério? Palavra feia. Concubina? Também. Concubinagem é horrível: devia ser retirada do dicionário. Mas o pior é Cônjuge: no dia em que uma mulher descobre que o marido é cônjuge, coitado dele. Os casais de antigamente eram plácidos, sábios e felizes? Só vistos de longe. É sempre assim: cada crônica, uma bem humorada cena desta nossa vida absurda.

2 comentários:

  1. Dúvida, grande Marcus: Como Werther poderia ser livre estando sujeito a uma paixão? Os budistas têm razão: a liberdade é o completo desapego. O homem livre não sofre.

    Quanto a Mercader e Trotsky, lembro-me que você dizia não gostar de romances; o mesmo vem ocorrendo comigo recentemente: gosto mais de história e de biografias. Faz parte de um ciclo. Agora mesmo, estou (re)lendo o magnífico "romance histórico" (quase uma biografia) do imperador romano Augusto escrito por John Williams.

    Adorei os comentários sobre "cônjuge". Bem a propósito, li recentemente um artigo (em inglês) sobre o tema: qual seria a melhor palavra para referir-se à "digníssima". Nada agradou mas o autor acabou sugerindo "partner". Eca!

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    1. Na concepção ocidental, derivada de Spinoza, a liberdade é o conhecimento da necessidade. Não é incompatível com perda ou sofrimento. Werther conhece sua necessidade (Carlota) mas sofre a perda. O Prometeu de Camus é livre.

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